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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Contando um conto...

A vida não é assim...



De cara com ele. Galã da novela das nove, preferência nacional de onze entre dez mulheres. Sonho de consumo, de mordida no tavesseiro nas noites mal dormidas, ali, na sua frente, na calçada da ruazinha gostosa, arborizada, da zona sul da cidade.

Magia pura, quanta imaginação produzida em cima daquele homem, beleza, elegância e charme que faltavam no seu dia a dia. Não era possível , e por outro lado era, a novela com suas histórias mentirosas, jogando a verdade na sua cara  em pleno meio dia.
Era ele, um pouco mais baixo, mas tão forte quanto, é agora ou nunca, o bonde não passa de novo, pelo menos nesta vida.

Atravessou a ruela, olhou pros lados, carro nenhum, ela sabia, mas não desejava nenhum tipo de concorrência na hora mágica e esperada. Houve um cruzar de olhos, esperança e desinteresse apertados no meio do asfalto, o peito arfou sem controle, os seios aumentaram de tamanho de repente, que bom, é mais uma arma no vale tudo pra ganhar uma palavrinha, um chaameguinho ou só um autógrafo.

- É você mesmo? -  a voz saiu fina e desafinada, ela sentiu o início ruim.
- Sim, sou eu, -  a resposta não animava muito.

- Você, aquele da novela da...

- Sim, sou eu, eu sou eu mesmo. - Ele parecia birncar com a emoção dela, fazendo joguinho infantil com a esperança embalada no pacote do amor  platônico.

- Meu Deus, eu não acredito, eu nunca pensei que... - ela não sabia o que dizer e se repetia perigosamente, o tempo voava, dois minutos escorreram num passe de mágica.

- E você quem é ? - ele pareceu mecânico, interesse comercial, tipo cartão de visitas que serve pra todo mundo.

Ela percebeu uma certa ironia, finalmente caiu a ficha, como quem sou eu, o que interessa isso, o que importa saber o nome de uma anônima, um zero à esquerda no corredor polonês de fãs tentando pegar no seu ídolo.

- Você deve ter um nome, é claro...

- Ela bambeou, tremia, a emoção elevava os seios e ameaçava arrebentar o peito, esqueceu do próprio nome por alguns segundos, a merda que essa relação de idolatria não faz.

- Você é ele, meu Deus, você é filho do coronel com aquela escrava, você é o advogado que vai salvar todo mundo, eu nunca pensei  na minha vida lhe ver ao vivo, conseguir uma coisa dessas...
Antes que ela falasse meu Deus de novo ele foi prático, pouco divino e mais terreno.

- Desculpe, eu estou um pouco atrasado, você gostaria de um ...

Ela ficou muda sem saber o que pedir na frente de tanta coisa, um elefante de vontades e tendo que escolher uma só, o tempo era curto e estava indo embora.
Doce dúvida, a voz que não sai, o que pedir, nunca mais na vida outra chance, ela fechou os olhos e pediu a Deus inspiração, e num átimo de segundo, com os olhos ainda semicerrados de emoção, a carne trêmula, decidiu que um abraço estava de bom tamanho. Só um abraço e nada mais.
O barulho a despertou como um soco no queixo. Eran vozes e gritinhos inconfundíveis. Olhou na direção do sonho e não viu mais os cabelos encaracolados, os olhos azuis, o corpo forte.
Uma nuvem de garotas  engolfava o galã das nove, era um puxa puxa danado, nenhum pedaço do homem à vista. Tentou aderir ao enxame  que só crescia, mas levou um empurrão, depois um puxão de cabelo e, por último, uma cotovelada daquelas dignas do MMA.

NOo chão, sobrou um corte no pulso e algumas lágrimas que já desciam velozes.
Viu quando o enxame se afastou estridente e  histérico, o seu galã no meio, sem espaço pra respirar. Só voltou a vê-lo na TV, na mesma novela, e deixou cair no quarto,
na noite fria, sozinha, as mesmas lágrimas daquele dia.

Valeu!

Um abraço!

Rony Lins

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