Convite esquisito

Fico preso no sinal vermelho e a menina faz a abordagem, panfleto na mão, pirata moderna navegando no asfalto quente e muito louco. Eu aceito, solidariedade, reconhecimento imediato sobre a aspereza daquele tipo de trabalho.

E quando leio não afasto a surpresa, misturada com certo desencanto:

Venha curtir um super show, ganhar muitos brindes e se divertir.
Evento gratuito
Domingo 9/10 às 10, Parque da  Cidade.

E aí o folheto diz que você vai aprender a manter o seu nome limpo, como economizar o seu salário, como comprar melhor e organizar as contas da família.

E de quebra um show imperdível com um grande cantor do momento.

E aí, inevitável, a cachola dá tratos à bola e fica pensando se logo no domingo de manhã, sol gostoso e céu azul (Ele querendo), filharada grudada no pé e louca pra brincar, um tremendo parque me esperando, eu paro tudo e vou discutir e pegar orientação sobre as finanças da família, a economia do meu salário, o gasto tá grande, corta a cerveja, o jornal e outros birigudigos,  limpar o meu nome... É , de repente, naquele ambiente gostoso do domingão, eu sento pra discutir a limpeza do meu nome e posso até lembrar, pra minha tristeza, que as dívidas  estão aí atrapalhando o dia a dia e infernizando o meu domingo.

É, não fico pro show, não, a cerveja azedou e a gritaria do parque virou uma sinfonia infernal. A vida estava boa naquela manhã, mas esse tipo de assunto corta qualquer barato.

Fala sério...  Será que um parque no domingo de manhã, com sol brilhando e os passarinhos me olhando com um sorriso no canto da boca, as asas visivelmente mais leves, é o melhor lugar pra discutir minhas finanças?

Fala sério de novo...

Sei não...  Em respeito ao domingo e à beleza da hora, eu me recuso a falar sobre as minhas finanças. Pode ser  a qualquer hora  em qualquer dia da semana. Mas no domingo... Nesse dia, eu curto mais um brinde com aquele vinhozinho esperto que enobrece qualquer fim de semana que se preze.

Valeu!

Abraço!

Rony Lins