PCAC

Chove em Copacabana e a cidade parece triste. Detenho minha caminhada ao ver um grupo reunido em torno de um cão simpático, de porte médio, branquinho, com manchas cor de caramelo.  O olhar  dele é melancólico e asustado ao mesmo tempo, parece concordar com a tristeza do dia em que foi abandonado.

Todos se mostram condoídos e revoltados com o ato covarde e cruel dos antigos donos. São bandidos invisíveis que sempre fogem  antes do calor humano chegar. É difícil pegá-los e a própria polícia também não se interessa (será que os delegados têm cachorros em casa?), eis que se trata de uma ligeira infração prevista na lei com  detenção de  3 meses a 1 ano . Mas, de ligeiro não tem nada o crime ora sob comento. O dano que causa é devastador, pela crueldade, frieza, calculismo inacreditável e sem qualquer chance de defesa por parte do abandonado. É quase um homicídio triplamente qualificado.

E eis que o grupo discute a melhor solução para que o cachorrinho não fique na rua, e penso em levá-lo comigo,  um bom banho no pet, e depois pensar o que fazer na vida dele e na minha.

De repente, ele se levanta e sai trotando, eu saio atrás e tento alcançá-lo. A chuva aperta, estamos os dois ensopados, a vontade de urinar surge do nada e deixa minha bexiga no limite, como aliada dos bandidos que abandonaram o cãozinho. Continuo na pista,  chego perto , tento pará-lo , ele não me obedece, é claro, preciso urinar, pena de pagar um mico tentando ajudar um cachorro. Entro na padaria , tiro aquele peso do corpo e volto à pista, mas nem sinal dele.

 Procuro pra lá e pra cá e nem sinal dele.

Fico pensando mil coisas, a fome desaparece, e o almoço vai pras cucuias.

Penso, também, na reforma do Código Penal  que institui a pena de  4 anos de cadeia para esses bandidos que abandonam seus cães na via pública. Esses membros  do PCAC, PRIMEIRO COMANDO DE ABANDONO DE CACHORROS, marginais que precisam ser punidos com rigor, vão ter que pensar  3 vezes antes de praticarem suas maldades inomináveis.

O Código Penal vem aí, tentando proteger nossos animais indefesos. E  vem tarde , pelo que a gente sabe, pois não é de hoje que tais atrocidades ocorrem nas grandes cidades brasileiras.

Cadeia é o lugar de quem abandona um cão indefeso no meio da rua.

Rezo pelo branquinho que me escapou entre os dedos, culpa de uma bexiga gasta e inoportuna que resolveu incomodar na hora menos apropriada. Rezo para que alguém tenha colocado a mão de Deus sobre a sua cabeça e que ele  esteja passando bem.


Valeu!

Abraço!

Rony Lins